(...) Em outro poema esparso por estas páginas exalta “o delicioso
vício da leitura”, fonte de geniais virtudes... Contrariando Mário
Quintana, que não queria que se interpretassem os poemas, por
serem eles interpretações da vida, dos seres, do mundo, aventuro-
me a retornar ao título do livro – A vaca e o hipogrifo. Por que a a-
proximação dos dois seres, o animal e monstro mitológico?
Surge o poema “Eis senão quando” (p. 551-552) em que o ho-
mem do Alegrete, motivado por uma película do cinema mexica-
no, compôs um texto em espanhol de que recolheu dois versos,
aqui transcritos: “Llenas estan mis praderas / De tristes lunas y
vacas”. E aí surge o lírico poema enaltecendo a beleza e as virtudes
da vaca, livre nos horizontes sem fim do pampa, de que são trans-
critos alguns versos: “Tão lenta e serena e bela majestosa vai pas-
sando a vaca. / [...] / Cantaria o gosto dos arroios bebidos de ma-
drugada, / Tão diferentes do gosto de pedra do meio-dia! / [...] /
O vôo decorativo dos quero-queros, / Ou, quando muito, / A lon-
ga, misteriosa vibração dos alambrados...” (p. 551-552). Humoris-
ticamente, no poema aproxima a vaca à figura de Maria: “Por que
que tu não és uma vaca, Maria? / Por quê / Ficaria tudo muito
mais simples e verdadeiro...” (p. 552).
Sublimou o ser animal, tornando-o igual ou superior ao ser
humano. O livro, com esta referência à vaca, mostra o lado belo e
singelo da existência humana. Mas o título vai além, tem o aditivo
hipogrifo – também animal, muito diferente da vaca, fabuloso com
cabeça, bico e asas de águia, e terrestre, representado pelo espaço
aéreo, próprio da águia, e pelo leão, símbolo de sabedoria e força.
(Page 5)
A poesia conforme Mário Quintana
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O livro A vaca e o hipogrifo é a reunião de poemas que revelam
a simplicidade e a serenidade da vaca e ao mesmo tempo os temas
grandiosos tratados na simplicidade e serenidade, num misto de
ironia e de humor, revelando o lado humano, divino e fantástico
da vida e da missão de ser humano que serenamente canta as bele-
zas das pradarias e desafia em seus vôos de águia os páramos do
infinito, pois o ser humano é o hipogrifo uivando para o etéreo.
Referências
QUINTANA, Mário. Poesia completa. Org. por Tania Franco Carvalhal. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005.
PLOUVIER, Paule (Dir.). Poesia e mística. Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticano, 2002.
http://216.239.59.104/search?q=cache:jJqer1cMD0kJ:revistaseletronicas.pucrs.br/veritas/ojs/index.php/fale/article/view/650/473+vacas,+poesia&hl=pt-PT&ct=clnk&cd=7&client=safari